Foto: Vinicius Becker (Diário)
Dona Maria de Jesus Souza Cardoso, 96 anos, conhecida por muitos como Maroca, recebeu do Grupo Diário uma cesta de café da manhã, presente da Afinitá Cestas, e um escapulário da Bendita Semijoias, em homenagem à relação de anos com o jornal. O jornal do Diário é, segundo ela, um companheiro inseparável: a professora aposentada chegou a pedir para que o impresso fosse entregue no hospital, durante o mês de julho, quando esteve internada. Logo no início da manhã, Maroca era avisada de que o impresso estava esperando por ela na portaria.
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A ligação de Dona Maria com a leitura não é apenas hábito, é rotina e consolo. Mesmo durante as internações, a neta Allana Cardoso, 29 anos, garantiu que o jornal fosse entregue, diariamente, para a avó.
– Eu acho uma falta do jornal (quando não consegue ler). A Allana ligou e pediu para entregarem lá. Todos os dias me avisavam: “Dona Maria, o jornal está na portaria”. E pronto, era o meu companheiro. Descansei para ler. Tinha ocupação. Eu gosto – relata.
A neta comenta que a família levava algumas edições em alguns dias da semana, mas não era diariamente, e Dona Maria ficava descontente por não poder ler todos os dias. Por isso, Allana resolveu pedir para que o Diário enviasse ao hospital as últimas edições, que Maroca havia perdido, e, assim, "acalmasse o coração da avó":
– Quando disponibilizaram a entrega no hospital, ela se sentiu realizada, importantíssima. Ela lê o jornal todos os dias, é a rotina dela: acordar de manhã, tomar o chá, os remédios e ler o jornal – destaca a neta.

Questionada sobre o que mais gosta de ler quando recebe o jornal impresso, Maroca ressaltou as reportagens da contracapa, geralmente culturais e de destaque. Além disso, reforça que não perde nenhuma notícia.
– Eu leio todas. Esses tempos teve uma sobre o sistema de criar os filhos. Foi uma reportagem muito bonita, eu achei. Tem umas bem bonitas, importantes mesmo – referindo-se à série de reportagens sobre a adolescência, as mudanças que traz e os cuidados com os filhos.
Sobre as mudanças na forma de se informar, Maroca conta que ainda que não se adaptou ao celular:
– Essa coisa que eu não sei nem pegar. Eu não entendo celular, e nem quero entender, porque o que não é só para o bem... Celular a pessoa tem que saber usar, não é? Quanta coisa tem acontecido.
A entrega dos presentes a Dona Maria é simbólica e reafirma o apreço pelo vínculo entre a leitora e o jornal, além de registrar a importância, mesmo em meio a tantas tecnologias, do jornal impresso para a população. Para a professora, o Diário não é só notícia, é presença, companhia e prova de que as pequenas rotinas sustentam histórias grandes. No caso de Dona Maria, é também a prova de que, mesmo diante das mudanças tecnológicas, a tradição de folhear as páginas e acompanhar de perto as notícias continua sendo parte essencial de sua rotina e de sua história.

Maroca e educação
A história de Dona Maria com a educação teve início em 1953. Ela começou dando aulas em casa e em salões de comunidades em cidades da região, e recorda com carinho o tempo em que dividia uma mesma sala entre várias séries: um quadro para um grupo, outro quadro para outro, com criatividade e disposição. E isso antes de o mimeógrafo, que facilitou a cópia de papéis, existir nas escolas.
Formada na experiência do dia a dia, ela estudava para o concurso à luz da lua, depois de terminar todas as tarefas na casa onde trabalhava. Ajudou a formar dezenas de alunos, muitos dos quais seguiram para o magistério, relembra Maroca, com carinho e orgulho. Alguns de seus ex-alunos trabalham hoje em instituições locais, em Santa Maria e região, e Dona Maria celebra a vitória de vê-los formados. Ela também conta que, no início, ministrava aulas em salas improvisadas onde a comunidade se organizava para educar as crianças.
A convivência com a comunidade ultrapassou a sala de aula. Ao mudar-se para Santa Maria, Dona Maria participou da vida religiosa e social da comunidade: atuou por 12 anos na Legião de Maria, passou pela pastoral do idoso e manteve hábitos saudáveis como ginástica e longas caminhadas. Ela comenta, com alegria, que sempre gostou de conversar e de estar perto das pessoas, por isso, ao longo dos seus 96 anos, colecionou boas amizades e histórias.
Ela lembra que quando mudou-se para Santa Maria, o bairro era vazio, havia duas ou três casas espalhadas pela área. Hoje, as ruas estão cheias de pessoas e histórias. Histórias estas que Maroca não esquece e que ajudou a construir.
Dona Maria teve 9 filhos e dezenas de netos. Em entrevista ao Diário, em 2019, somava-se 17 netos e 11 bisnetos. A conta, entretanto, não para de aumentar, e Maroca conta com alegria o carinho que recebe de toda a família, especialmente dos netos, que insistiam para morar com a aposentada durante a infância.